"A condição para mudança é criada por nós, o caos nunca será maior que uma verdadeira consciência."
sábado, 5 de novembro de 2011
O autor Luís Fernando Veríssimo aproveitando-se das variações da palavra "ponto" cria este texto artisticamente.
PontosNo início era um ponto. Ponto de partida. O ponto onde a tangente toca a circunferência, e faz-se a vida. Ponto pacífico. O círculo é a timidez do ponto. A linha é o ponto desvairado. O travessão é o ponto-ante-ponto, a primeira exploração embevecida, a infância. Ligando as palavras. Nasceu num ponto qualquer do mapa. Sua mãe levou pontos depois do parto. A linha reta é o caminho mais chato entre o parto e o ponto final, preferiu o ziguezague. Teve uma vida pontilhada, os pontos que caíram nos exames, os pontos que subiam na Bolsa, os pontos de macumba, os pontapés. Mas sempre foi pontual. O ponto é uma vírgula sem rabo. A vírgula não é como o ponto e vírgula ponto e vírgula a virgula qualquer um usa mas o ponto e vírgula requer prática e discernimento vírgula modéstia a parte ponto Nova linha. Fez ponto em frente à casa da namorada, uma circunferência com vários pontos positivos, como a sua mãe apontada acima. Não dormiu no ponto, acabou convidado para entrar quando estava a ponto de desistir, pontificou sobre vários pontos, não demora já era apontado como íntimo da casa, jogava cartas (pontinho) com a família, parecia um pontífice, não desapontou. Casaram. Tinham muitos pontos em comum. O sexo! Ponto de exclamação. Querida, estou a ponto de... não! Cuidado. Ponto fraco. A tangente toca a circunferência. Outro ponto no mapa. Parto. Pontos. Tiveram muitos pontos em comum. Os outros caçoavam: que pontaria! Discordavam num ponto: a pílula. Zig-zag-zig-zag. Os ponteiros andando. Um dia, no futebol – jogava na ponta – sentiu umas pontadas. Coração. O ponto-chave. O médico insistiu num ponto: pára. Mas como? Chegara a um ponto em que não podia parar, era um ponto projetado no espaço, a vida é um ponto com raiva, parar como? A que ponto? Saiu encurvado. Como um ponto de interrogação. Só uma solução, dois pontos: os 13 pontos na loteria. Senão era um ponto morto. A linha reta no eletro, outro ponto pacífico, o ponto no infinito onde as paralelas, a distância mais curta entre, cheguei a um ponto em que, meu Deus... Três pontinhos. Jogou o que tinha num ponto de bicho e o que não tinha num ponto lotérico. Não deu ponto. Em casa a circunferência e os sete pontinhos. Resolveu pingar os pontos nos is. Melhor deixar uma viúva no ponto. De um ponto de ônibus mergulhou, de ponta-cabeça, na ponta de um táxi, ou de um ponto de táxi na ponta de um ônibus, é um ponto discutível. Entregou os pontos. |
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